Precisamos olhar com carinho e acolhimento, aos pretendentes, e compreendermos o quanto pode ser difícil a espera sem uma data pré-determinada para terminar.
Primeiro vamos olhar para os pretendentes que não conseguem gerar biologicamente. Muitos chegam exaustos depois de um investimento psíquico, emocional e financeiro de várias tentativas de engravidar, alguns com histórico de abortos, tratamentos, fertilizações que não derão certo.
Existe nesse cenário vários lutos não reconhecidos pela nossa sociedade: o luto de não conseguir gerar, das tentativas de tratamento e fertilizações que não deram certo, abortos. E o casal vive essa angústia, essa perda, muitas vezes sozinhos, sem espaço de acolhimento e elaboração.
Sim, eles devem cuidar dessas feridas antes da chegada da criança por adoção, mas o que acontece, é que quando eles chegam em um processo de avaliação para habilitação, eles nunca nem ouviram falar, que toda essa dor de não gerar, os tratamentos e abortos, é um luto que precisa de elaboração. Muitas vezes, é no momento da entrevista, que eles têm esse sentimento validado.
Temos também os pretendentes que sempre desejaram a adoção, e não tem nenhuma questão de infertilidade. Eles apenas escolheram essa via, por ser uma outra forma legítima de filiação.
Apesar de não existir um luto pela infertilidade, não significa que a espera seja fácil. Muitos desses pretendentes, se planejaram por um tempo, até decidirem por este caminho. Costumo dizer que a espera se inicia bem antes da habilitação, ela começa lá, quando ser pai ou mãe por adoção, era apenas um sonho.
E como lidar com esse tempo de espera?
Você tem a escolha de esperar, ou de esperançar, como nos ensinou Paulo Freire.
E como é esperançar? D’andrea (2012, p. 75), em seu livro “Tempo de Espera”, nos sugere sobre como seria, ele diz que “os pretendentes deverão transformar a espera de tempo estéril em momento de maturação e reflexão, de superação da depressão e da raiva, e de crescimento das próprias potencialidades vitais para amadurecer uma escolha que seja consciente e responsável".
Simbolicamente, a gestação biológica, os pais e a família, tem um tempo de nove meses para se preparar para a chegada da criança. Os pretendentes à adoção, podem utilizar esse tempo para realizar um pré-natal psicológico, participando dos eventos sobre o tema, estudando sobre desenvolvimento infantil, realizando acompanhamento psicológico para cuidar de si mesmos e se fortalecerem para a chegada da criança.
Cada um lida com a espera e a ansiedade de forma diferente, e é muito importante se autoavaliar e perceber qual a sua forma e o que você precisa para que a espera, seja tempo de esperança.
Sempre explico para os pretendntes que acompanho, que cada dia que passa, é um dia menos na fila da adoção! Vamos esperançar?!
Kelly Caraça
Psicóloga Clínica - CRP 06/127.713
Kelly Caraça
Psicóloga Clínica - CRP 06/127.713
©Copyright Kelly Caraça - 2023. Todos os direitos reservados.